quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O cachorro Ciumento - de Pe Agnaldo José


            Um momento de Reflexão





Quando o sacristão chega para abrir a porta da igreja, Nino já está lá faz tempo.Deitado no chão, observa o movimento dos carros. Não vê a hora de correr para dentro da matriz.Ao ouvir o barulho dos trincos, Nino sai ligeiro, balançando o rabo,todo feliz. Rola no carpete do altar e depois deita, esperando a hora da missa.
As pessoas entram e são acolhidas pelo cachorro. Ele cheira os pés das velhinhas e brinca com as crianças. Nino é amado pela comunidade. Não tem dono, mas todos cuidam dele. Não mora numa casa, mas recebe carinho e comida por onde passa. Tem pelos brancos com pintas amareladas. Sua raça não é definida, mas, ainda assim, faz pose de que tem pedigree. Vai à frente da cruz nas precissões. Late, pula e abre alas para a passagem do andor de Nossa Senhora. Nino até já saiu em fotos de casamento! Entretanto, o cachorro fiel sobre de um problema que também atinge muitos humanos: o ciúme. Ele não suporta a presença de outro cão na igreja. Ao avistar outro animal cruzando a porta ou caminhando pelo corredor central, dá um salto, range os dentes e sai atrás do intruso, expulsando-o para bem longe.Nino me faz pensar na nossa vida comunitária. Muitos católicos são como ele: dedicados, amorosos e acolhedores.São os primeiros a chegar à igreja e os últimos a sair. Vão à frente nas procissões. Visitam os doentes e pagam o dízimo. Alegram o coração de Deus. Mas, como Nino, sentem-se donos da comunidade. Se alguém se aproxima e os ameaça, "rangem os dentes" e "correm atrás das pessoas", expulsando-as para bem longe. Jesus deve ter grande carinho por Nino, criatura que nasceu das mãos do Pai. Porém, não quer que imitemos seu ciúme e sua ira. Deseja que vivamos como os primeiros cristãos: num só coração e numa só alma. Espera que testemunhemos sua ressureição, vendo multiplicar a graça de Deus. Quer que sejamos servos uns dos outros e não donos da igreja.
Nino sempre será assim. Enquanto estiver frequentando a igreja, manifestará o mesmo comportamento: ficará deitado ao redor do altar e correrá atrás de outros cães. Nós, contudo, podemos melhorar sempre, pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Somos seus filhos.

Artigo escrito por Pe Agnaldo José, sacerdote, jornalista e mestre em Comunicação.
Publicado na revista Ave Maria de Agosto/2011

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